Exorcismo na Igreja, evolução no Espiritismo
Papa Francisco |
Segundo a doutrina da Igreja, os demônios foram criados bons e se tornaram maus por sua desobediência: são anjos colocados primitivamente por Deus no alto da escala, tendo decaído dela. Segundo o Espiritismo os demônios são Espíritos imperfeitos, suscetíveis de regeneração e que, colocados na base da escala, hão de nela graduar-se. Aqueles que persistem em ficar por mais tempo nas classes inferiores — por apatia, negligência, teimosia ou má vontade — sofrem as consequências dessa atitude, e o hábito do mal dificulta-lhes a regeneração. Entretanto, um dia chega para eles o cansaço dessa vida penosa e das suas respectivas consequências; eles comparam a sua situação à dos bons Espíritos e compreendem que o seu interesse está no bem, procurando então se melhorarem, mas por ato de espontânea vontade, sem que haja nisso o mínimo constrangimento.
Allan Kardec – O Céu e o Inferno, cap IX. item 21
O vocábulo possesso, no seu significado comum supõe a existência de demônios, isto é, de uma categoria de seres maus por natureza, e a coabitação de um desses seres com a alma de um indivíduo, no seu corpo. Pois que, nesse sentido, não há demônios e que dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo corpo, não há possessos na conformidade da ideia a que esta palavra se acha associada. O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se com relação a Espíritos imperfeitos que a dominem.
Allan Kardec – O Livro dos Espíritos, comentário à questão 474
Os Espíritos atrasados rodeiam em torno da Terra, em consequência da inferioridade moral de seus habitantes. A ação maldosa desses Espíritos é parte integrante dos flagelos com que a Humanidade se vê abraçada neste mundo. Por isso, a obsessão — que é um dos efeitos de semelhante ação, como as enfermidades e todas as atribulações da vida — deve ser considerada como provação ou expiação e aceita com essa função.
Chamamos de obsessão à ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta tipos muito diferentes, que vão desde a simples influência moral — sem perceptíveis sinais exteriores — até a perturbação completa do organismo e das capacidades mentais.Allan Kardec – A Gênese, 1ª parte, cap. XIV, item 45.
Anneliese Michel (1952-1976) |
Mas, ainda não é tudo: para assegurar a libertação da vítima, torna-se indispensável que o Espírito perverso seja levado a renunciar aos seus maus costumes; que se faça que o arrependimento desponte nele, assim como o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em evocações particularmente feitas com o objetivo de lhe dar educação moral. Pode-se então ter a grata satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito atrasado.
O trabalho se torna mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua situação, contribui para ele (o obsessor) com a vontade e a prece. Isso não acontece quando o obsidiado fica seduzido pelo Espírito que o domina e se ilude com relação às qualidades deste último e se satisfaz no erro a que é conduzido, porque então, longe de fortalecer a assistência, o obsidiado a repele totalmente. É o caso da fascinação, sempre infinitamente mais rebelde do que a mais violenta subjugação.
Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso meio de que dispomos para desviar o obsessor de seus propósitos maléficos.Allan Kardec – A Gênese, 1ª parte, cap.XIV , item 46
“Se podem proibir a certas pessoas que se comuniquem com os Espíritos, não podem impedir que manifestações espontâneas sejam feitas a essas mesmas pessoas, pois não podem suprimir os Espíritos, nem lhes impedir que exerçam sua influência oculta. Esses tais se assemelham às crianças que tapam os olhos e ficam crentes de que ninguém vê. Seria loucura querer reprimir uma coisa que oferece grandes vantagens só porque alguns imprudentes podem abusar dela. Ao contrário, o meio de prevenirem os inconvenientes consiste em torná-la conhecida a fundo.”
Um Espírito – O Livro dos Médiuns, cap. XXIII, item 254