7 de setembro e a inspiração para a nossa independência

por Dorival Strelow

Este feriado cívico de 7 de setembro é uma excepcional oportunidade para todos nós, brasileiros natos e abrasileirados — e é digno de nota que a simpatia de muitos estrangeiros pelo Espiritismo despertou nestes um natural carinho pelo Brasil, em função de ter sido aqui onde a Doutrina Espírita refloresceu, depois da derrocada do movimento espírita original francês —, dadas as circunstâncias pelas quais nosso país passa, de muitas turbulências, separatismos e controvérsias políticas, especialmente este ano, quando teremos mais um pleito para os mais altos cargos governamentais. Frente a todas essas arengas ideológicas e brigas por privilégios materiais, o espirita — aquele sincero com os fundamentos espirituais e verdadeiramente comprometido com a missão designada aos semeadores da última hora, dentro do plano de transição planetária — ora encarnado neste solo tupiniquim, e não despropositadamente, tem um grande dever a cumprir — com esta nação e com os missionários da Luz, que tanto têm labutado em favor dessa terra abençoada — sublimando-se, cada um de nós, buscando nos elevar acima de todas essas mesquinharias terrenas, e dar o exemplo de um bom cristão, de um bom espírita, por exemplo, nos moldes do “homem de bem” (homem aqui no sentido de ser humano, não de gênero masculino exclusivamente), conforme lemos em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII, item 3).
Não falte quem grite por aí que “os Espíritos não tem raça, cor, gênero sexual ou nacionalidade”, e, portanto, não nos caberia o “apego” às fronteiras, nacionalismo, patriotismo, etc. De minha parte, eu entendo ser absolutamente verdadeiro que os seres espirituais de fato são desprovidos dessas características mundanas, mas somente a partir de um determinado nível evolutivo, que a autêntica modéstia — humildade mesmo — não inspira ninguém se vangloriar de já aí se incluir. Sinceramente, penso que a grande massa de nossa geração, tão logo desencarne, permanecerá bem materializada psicológica e perispiritualmente. Em tais condições, aquele que preservar especial amor à sua terra natal da precedente reencarnação não estará por fora da normalidade.
O amor à sua nação não pode ser confundida com o ufanismo, que, embora não deixe de ser uma manifestação de afeto — doentio, mas ainda assim afeto —,no caso, naturalmente orgulhoso, é mais próximo da xenofobia (desconfiança, preconceito ou aversão aos de fora). Esse amor — genuíno nacionalismo — caracteriza-se principalmente pelo sentimento de gratidão pela acolhida, por mais penosa que tenha sido sua trajetora reencarnatória nesse lugar. E no nosso caso, especificamente, a gratidão por compartilharmos das fronteiras brasileiras se torna ainda mais extraordinária em razão de que aqui, e talvez somente, tivemos a oportunidade de conhecer a nossa doutrina, o Consolador prometido por Jesus, o que nos impõe redobrada consciência de nossas responsabilidades, em face da missão dos espíritas nesse fechamento de ciclo progressivo do nosso mundo.
E o futuro do Brasil clama por nossa cooperação!
Como espíritas, temos — ou deveríamos ter — uma visão muitíssimo mais alargada tanto sobre as causas de toda a problemática que assola nosso povo, quanto das soluções mais viáveis. Racional que é, o Espiritismo e seu projeto regenerador nos alerta não podermos mais agir fora da lógica e da razão; já basta os fanatismos religiosos, políticos e sociopatias. À luz da mensagem do Evangelho do Cristo, devemos assumir a postura positiva de nos determinarmos ao Bem. Não seremos bons apenas com essa deliberação, todavia, a deliberação de ser bom, melhorando paulatinamente, é o primeiro passo para alcançarmos tal intento. E esse é o compromisso maior do espirita: sair da casa espírita e ser espírita — o que equivale a dizer “ser cristão” na mais pura acepção desse adjetivo —, atuando na vida real com toda a dignidade que nos for possível, cumprindo o preceito que o Messias nos legou: “Sejam perfeitos, como perfeito é o Pai Celestial”.
Assim, poderemos ser os primeiros bons professores, os motoristas mais responsáveis, os médicos mais atenciosos, os mecânicos mais responsáveis, os roceiros mais diligentes e assim por diante, em cada setor e atividade da nossa sociedade, que tanto precisa de bons professores, mecânicos, governantes, etc.
Quando os espíritas assumirem seus postos na vida real, eles irão influenciar, através da irresistível força da fraternidade, a todos ao seu redor, assim requalificando nosso povo e nossa nação. Quando isso se der, a educação desse país vai melhorar substancialmente, nossos hospitais serão mais acolhedores, os negócios das indústrias e do comércio fluirão e a prosperidade será compartilhada com todos. Nosso progresso moral, também refletido no avanço econômico e cultural, contagiará o mundo, tornando verdadeiro aquele utópico sonho de “coração do mundo, pátria do evangelho”.
Incêndio no Museu Nacional – RJ (2, agosto, 2018)
Longe do ideal espírita, assumindo um papel totalmente oposto na nossa vida real, seremos nada mais que um bando de condenados numa terra de expiação prolongada. É por causa dessa negligência que amargamos ver a “cidade maravilhosa” tomada pelo crime, os duzentos anos de História do Museu Nacional serem dizimados numa noite fatídica, o analfabetismo, a banalização da vida e, por fim, a dor da solidão de cada um daqueles que, mesmo em marcha no meio de uma multidão, amarga a falta de valor próprio, falta de amizade sincera e falta de um sentido para viver.
Aproveitemos esse feriadão para uma reflexão mais profunda acerca da maravilhosa oportunidade que temos, aqui no Brasil, conhecedores da Doutrina iluminadora que é o Espiritismo, de darmos uma maior contribuição para essa nação, para o nosso povo, para o plano de Deus em favor da regeneração da humanidade. Vamos precisar de todo mundo e cada indivíduo que se conserve relutante a essa nova postura provoca um enorme prejuízo pelo atraso evolutivo.

Que este 7 de setembro — que a História registra como o marco da Independência do Brasil frente à dominação de Portugal — nos inspire o sentimento de independência espiritual, a libertação de nossa consciência frente às banalidades materiais, em favor de um plano maior: os valores espirituais. Sejamos menos nós e nossas mesquinhas pretensões, e sejamos mais Brasil!

P. S. A propósito, estamos em luto pela tragédia ocorrida com o Museu Nacional (destruído pelo incêndio de 2 de setembro deste 2018), e profundamente entristecidos com o descaso das autoridades responsáveis e a irreparável perda daquele então precioso acervo.

Ery Lopes
erylopes10@gmail.com
Portal Luz Espirita

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