O espírita e o Movimento Espírita

por Dorival Strelow
Reformador - Junho

O espírita e o Movimento Espírita

Reformador - Junho

           Reformador – Junho

Atualmente, nas reflexões feitas na Casa Espírita a, muito se fala a respeito do Movimento Espírita, sua abrangência e o que fazer para melhorá-lo. Encontramos no livro Cintilação das estrelas, do
confrade José Raul Teixeira, excelentes apontamentos do benfeitor Camilo, acerca da temática em questão.

Camilo conceitua o Movimento Espírita como:

[…] movimento dos homens que se sensibilizaram com o chamamento do Consolador, que deve, por isso mesmo, colocar- se a serviço do Cristo, para que Ele conduza o progresso de todos nós, Senhor que é de todos os movimentos de alevantamento do homem da sua indigência espiritual para os labores do seu próprio aprimoramento.

Sendo um movimento dos homens, certamente encontraremos em seu bojo as imperfeições e os limites que caracterizam a criatura humana no seu atual estágio de evolução. Contudo, interessados que somos na expansão do Espiritismo, visando à iluminação de consciências e não apenas à conversão do próximo, para que isso ocorra temos que nos aperfeiçoar individualmente, a fim de que haja reflexos positivos no Movimento Espírita.

Não há como melhorar a qualidade do Movimento Espírita em todos os seus aspectos (doutrinário, expansão com qualidade, formas de divulgação etc.), se os espíritas não se dedicarem com afinco e seriedade à própria tarefa de autoiluminação.

O citado benfeitor assevera que:

[…] no trabalho imensurável da Oficina do Consolador, nosso exemplo e nossa dedicação farão do seu Movimento enobrecido o verdadeiro retorno dos Irmãos de Jesus, amando e sofrendo para aprender e ensinar, a fim de que, levantando o Cristo em nós, sejamos capazes de apresentá-lo aos nossos companheiros da estrada humana, vivendo o entendimento da fraternidade no ministério luminoso.

Ao citar o retorno dos Irmãos de Jesus, Camilo está comparando, obviamente, a disseminação do Espiritismo ao crescimento do Evangelho à época do Cristo e nos três séculos posteriores, porque temos que nos esforçar para conquistar as mesmas qualidades dos cristãos primitivos (fé, coragem, simplicidade, seriedade etc.), com o escopo de que o amor e a identificação com o Cristo sejam as características primordiais do espírita e, portanto, do Movimento Espírita.

Para facilitar a reflexão profunda em torno deste tema, Camilo nos apresenta algumas das principais virtudes pessoais para que possamos contribuir com a boa qualidade no Movimento Espírita. São elas: Fé – A racionalidade da fé, alicerçada nos ensinos espíritas, é de primordial importância, a fim de que o Movimento Espírita possa crescer com coragem e entusiasmo, sem pieguismos, tendo a fidelidade do espírita à vivência do Evangelho como usina de força a sustentar esse Movimento; Afeto aos irmãos – Muito se fala em Unificação do Movimento Espírita, o que, de fato é importante; todavia, somente conseguiremos essa unificação se houver afeto e respeito entre os espíritas, porque sem a “adesão do coração” não há como se unirem em clima de paz e cordialidade. Aliás, uma unificação desordenada e sem esse sentimento de afeto e verdadeira amizade entre os espíritas gerará efeitos mais danosos ao Movimento;

Alegria – O espírita deve pautar sua existência na alegria de viver, não obstante os desafios do cotidiano, porque entende o verdadeiro sentido da vida, de forma que essa energia da alegria que contagia deve repercutir no Movimento Espírita, tornando-o mais dinâmico e feliz;

Caridade e interesse pelo próximo – A fé sem obras é morta em si mesma, já nos ensinava o Apóstolo Tiago. Deve, pois, o espírita pautar sua vida pelo desejo sincero de servir, ajudando o próximo de forma material ou moralmente,  sem preguiça e reclamação, para que a sociedade identifique que o Movimento Espírita é a mensagem de Jesus convidando- nos à vivência do amor e ao conhecimento das Leis Divinas que regem a vida;

Entusiasmo – Em muitas mensagens da Espiritualidade Superior notamos a advertência sobre a perda do entusiasmo inicial, pois muitos espíritas, com o passar dos anos, vão perdendo o vigor original, permitindo que o comodismo e a apatia lhes prejudiquem o processo evolutivo e, por consequência, tornem apático o Movimento Espírita;

Estudo permanente – Sabemos quão importante é o estudo, a fim de que se evitem distorções e divergências no Movimento Espírita. Infelizmente, há muitos livros de péssima qualidade doutrinária e teorias esdrúxulas que vêm sendo aceitos pelos espíritas, em afronta à chamada “pureza doutrinária”. Somente haverá essa pureza se deixarmos de lado o desinteresse e a preguiça, e estudarmos com profundidade as belas lições que o Espiritismo proporciona.

Nesse sentido, Camilo lembra que:

[…] atuantes, pois nos arraiais que visam divulgar e desenvolver as mensagens espíritas, não será demais recordar que as horas de abençoado convívio na experiência doutrinária são como formosos encontros que objetivam o crescimento da Alma, na troca das energias tão importantes.

Dessa maneira, se o espírita não valoriza as bênçãos da Casa Espírita, dos grupos de estudo e a convivência com os confrades, como idealizaremos um Movimento Espírita mais equilibrado e ativo?

Quantas vezes, nos compromissos das lides espíritas, como a realização de palestras e seminários, ouvi dos dirigentes dos centros espíritas queixas sobre a frequência dos espíritas nesses encontros! Diziam eles: “Mais da metade dos que convidei não vieram”.

Enquanto houver desinteresse pelo estudo, pela aprendizagem doutrinária e pela falta de respeito e afeto entre os espíritas e ausência de fidelidade a Jesus nas ações do cotidiano, ainda teremos um Movimento Espírita com resultados aquém do esperado, por refletir as imperfeições morais que ainda vigem na intimidade de cada espírita.

Lembremos, conforme Léon Denis, que o Movimento Espírita será aquilo que o espírita dele fizer.

Finalmente, é ainda Camilo que nos orienta:

Necessário é pensar e repensar as situações que se apresentam na continuada marcha que encetamos, de maneira a aproveitarmos os dias de iluminada messe de orientações e conforto moral que as lições do Consolador propiciam.

Maomé segundoA llan Kardec1

Deve-se julgar Maomé pela história autêntica e imparcial, e não conforme as lendas ridículas que a ignorância e o fanatismo espalharam por sua conta ou as descrições feitas pelos que tinham interesse em desacreditá-lo, apresentando-o como um ambicioso sanguinário e cruel. Também não se deve responsabilizá-lo pelos excessos de seus sucessores, que quiseram conquistar o mundo para a fé muçulmana de espada em punho. Sem dúvida, houve grandes infâmias no último período de sua vida; ele pode ser censurado por ter abusado, em algumas circunstâncias, do direito de vencedor e de nem sempre ter agido com a moderação necessária. Entretanto, ao lado de alguns atos que a nossa civilização reprova, é preciso dizer, em sua defesa, que muitíssimas vezes ele se mostrou muito mais humano e clemente para com os inimigos do que vingativo e que inúmeras vezes deu provas de verdadeira grandeza de alma. Deve-se reconhecer, também, que mesmo em meio aos seus sucessos e quando havia chegado ao ponto culminante de sua glória, ele se fechou, até o seu último dia, no seu papel de profeta, sem jamais usurpar uma autoridade temporal despótica. Não se fez rei, nem potentado e jamais, em sua vida privada, se manchou por algum ato de fria barbárie ou de baixa cupidez. Sempre viveu simplesmente, sem fausto e sem luxo, mostrando-se bom e benevolente para com todos. Isto é da História.

Deve-se censurá-lo por ter estabelecido a sua religião pelo ferro, num povo bárbaro que o combatia, quando a Bíblia registra, como fatos gloriosos para a fé, carnificinas de tal atrocidade que se é tentado a tomá-las como lendas? Quando, mil anos depois dele, nos países civilizados do Ocidente, cristãos, que tinham por guia a sublime lei do Cristo, atirando-se sobre vítimas pacíficas, sufocavam as heresias nas fogueiras, nas torturas, nos massacres e em ondas de sangue?

1 N.R.: KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. ano 9, n. 11, nov. 1866, Maomé e o Islamismo, p. 430 e 431. Trad. Evandro Noleto Bezerra.

2. ed. 1. reimp. Brasília: FEB, 2007. Transcrição parcial.(O título do artigo foi interposto pelo Editor de Reformador.)

Fonte: Reformador

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