Ignácio de Antioquia, uma saga do Cristianismo Primitivo

por Dorival Strelow
Ignácio de Antioquia
Ignácio de Antioquia

Ignácio de Antioquia

Ignácio de Antioquia, uma saga do Cristianismo Primitivo

Livro de 544 páginas ditado ao médium Geraldinho Lemos Neto em 2005 é vigorosa transcrição da trajetória de Ignácio e segue mesma linha histórica de narrativas de Emmanuel

Juvan Neto (*)

Uma das maiores contribuições que a Espiritualidade Superior deu nos últimos anos à Literatura Espírita e Mediúnica pode e deve ser melhor conhecida pelos espíritos sequiosos do conhecimento acerca do Cristianismo Primitivo e da vida de importantes mártires da Boa Nova. Seguindo a mesma linha histórica das narrativas romanceadas de Emmanuel, uma obra de peso ditada pelo até então desconhecido espírito Theophorus traz em 544 páginas e com riquíssimo detalhamento histórico as vidas de dois apóstolos do primeiro século do Cristianismo.

O livro em questão é “Ignácio de Antioquia”, ditado ao médium mineiro Geraldo Lemos Neto e publicado em 2005 pela Vinha de Luz Serviço Editorial, departamento da Casa de Chico Xavier de Pedro Leopoldo, MG. A obra traz em suas páginas a luminosa trajetória de Ignácio, o jovem menino que esteve no colo do Cristo, na inolvidável passagem das Bem-Aventuranças em que Jesus ilustra seu ensinamento do “Deixai vir a mim as criancinhas” – fato este que por nove décadas, marcou profundamente a vida do menino e transformou-o em abnegado pioneiro cristão, seja pela presença marcante de Jesus em sua vida, seja pela atuação tutelar do apóstolo João Boanerges, que o tinha como filho. Aliás, a obra também detalha o exemplo de renúncia e sacrifícios vividos pelo apóstolo João, que desde Jerusalém e Joppe, da Judéia, passando por Antioquia de Síria até Éfeso e Smyrna da Ásia, venceu obstáculos de desafios para implantar a Boa Nova no coração dos homens.

Mas a narrativa não chama a atenção apenas pela qualidade literária de seus 55 capítulos – que além da fidelidade aos episódios históricos, traz os nomes de cidades e províncias com sua grafia original e necessitou até mesmo de um professor de latim para auxiliar o médium Geraldo em seu trabalho psicográfico.

Uma série de manifestações da Espiritualidade Amiga permeou todo o trabalho de recepção da obra, que pode-se

Geraldo Lemos Neto

Geraldo Lemos Neto

dizer, teve o aval do médium Chico Xavier, ainda nos anos 40, quando pediu ao amigo Arnaldo Rocha que guardasse na memória o nome “Ignácio de Antioquia”, a quem os cristãos deviam muito.

Aos mais íntimos, Chico teria confessado que a história da vida de Ignácio seria o sexto romance histórico que Emmanuel planejara ditar, mas que após a fama conseguida pelo medianeiro de Uberaba depois de 1971, com suas duas apresentações no programa Pinga Fogo, da TV Tupi, e com o trabalho de consolo aos aflitos em Uberaba não houve maior disponibilidade de tempo para este mister – já que a psicografia de um texto mais denso consumiria um labor maior.

Cefas, amigo de Nestório

O próprio médium Geraldo Lemos Neto comenta que a princípio, não conhecia a identidade de Theophorus, mas depois, ficou sabendo que se trata do escravo Cefas, amigo de Nestório, uma das identidades espirituais do benfeitor Emmanuel, descrita na obra clássica “50 anos depois”. “Theophorus, ao tempo de Ignácio de Antioquia, foi o discípulo Cefas, na cidade de Apolônia Pôntica, por volta do ano 75 de nossa era”.

Por esta proximidade entre Cefas e Emmanuel, Geraldo não descarta que a narrativa assinada por Theophorus tenha contado com a anuência do mentor de Chico. “À medida que a psicografia ia se desenrolando, fiquei convicto que o querido benfeitor Emmanuel, embora indiretamente, houve por bem nos auxiliar no serviço mediúnico”, atesta.

Manifestações mediúnicas

E não só este endosso de Emmanuel e Chico que valida a excelente obra. A manifestação dos Espíritos a Geraldo começou cedo, segundo o próprio médium. Um fenômeno de desdobramento espiritual fez com que na noite de 16 para 17 de abril de 2003, Geraldo fosse cientificado de que a obra estava preparada para ele psicografá-la. Na ocasião, três benfeitores convidaram Geraldo à tarefa. “Penetrei, então, num novo mundo de sensações indefiníveis envolvendo-me todo o ser”, relata o médium.

Os trabalhos de psicografia aconteciam no Centro Espírita Luz, Amor e Caridade, de Belo Horizonte, e também na União Espírita Mineira, com Arnaldo Rocha. Na mesma noite do desdobramento, dois outros médiuns da capital mineira receberam instruções sobre o compromisso mediúnico de Geraldo: Noêmia Barbosa da Silva, médium ostensiva, e Ivanir Severino da Silva, colega que Geraldo não via por quase 20 anos, e atuava na Fraternidade Espírita Cristã Francisco de Assis, à qual Geraldo iria se vincular em seguida, para implantar o departamento editorial da instituição.

Através da mediunidade de psicofonia de Ivanir, o abnegado benfeitor Irmão José repassou a Geraldo as orientações e advertências sobre o trabalho a ser iniciado. Durante 18 meses ininterruptos, Geraldo se dedicou à psicografia nas noites de domingo, na sua própria casa, onde foi instalado o Núcleo Espírita Cristão Maria de São João de Deus.

Já o prefácio e os dois últimos capítulos do livro, por instruções dos Espíritos, foram recebidos em reuniões do Luz, Amor e Caridade, às segundas-feiras. No final da obra, Geraldinho, como é conhecido, dedicou-a a Chico Xavier e lembrou ainda a presença amiga da benfeitora espiritual Neném Aluotto, que quando encarnada, comandou a União Espírita Mineira (UEM) por 33 anos.

Menino desenha Ignácio subindo aos céus

Antes disso, em março de 2005, outra intervenção da Espiritualidade: o menino Estevão Soares Villas, de 7 anos de idade, espontaneamente, ofereceu a Geraldinho um desenho intrigante: a foto de um homem feliz, com asas, subindo aos céus. O menino Estevão recebeu o desenho horas antes de Geraldo psicografar o capítulo 54, que narra o desenlace e a subida de Inácio de Antioquia ao Plano Espiritual Superior. Para Geraldo, uma demonstração inegável de que a Espiritualidade esteve presente durante todo o percurso do livro. O desenho de Estevão e as pinturas mediúnicas foram reproduzidas no final da obra.

“O concurso de todos estes amigos dedicados supriu as minhas muitas deficiências e pude sentir-me, num espaço de alguns meses, mais seguro para entregar-me à recepção psicográfica”, observa o médium. Geraldo ainda destaca que os conhecimentos de fatos, lugares, personagens e acontecimentos repassados por Theoforus estão nitidamente fora dos limites dos conhecimentos do médium. “A sensação que vivenciei era a de que vigorosa vontade extracorpórea se impunha, fazendo-me ser invadido por inúmeros fluidos elétricos, elevando-me ao estado de transe”, lembra ele. “Por vezes, pareceu-me ler num livro imaterial o que grafava no papel. De outras vezes, afigurava-se-me estar testemunhando um filme em três dimensões, acompanhando as cenas”, acrescenta.

O médium comenta ainda que o fato de grafar os nomes originais das províncias e cidades citadas na língua latina fez com que ele mesmo tivesse de pesquisar atlas da antiguidade e mapas históricos, pois muitos destes locais ou não existem mais ou são sítios arqueológicos. A narrativa também dedica 15 páginas para notas explicativas que contextualizam o momento histórico da época, detalham curiosidades sobre encarnações anteriores e futuras de muitos dos personagens citados, costumes dos judeus e primeiros cristãos, situam as antigas províncias com os mapas da atualidade e ainda relacionam fatos citados aos romances clássicos de Chico, como “Há 2.000 anos” e “Paulo e Estevão”, entre outros.

Aliás, é impressionante como a obra desdobra assuntos não abordados nos romances clássicos de Emmanuel – como a própria trajetória de João Boanerges e Inácio, e ainda a atuação e o destino de Maria, mãe de Jesus, desde a proteção permanente de João, os locais onde Maria viveu em Smyrna e Éfesus, até sua luminosa desencarnação.

(*) Juvan Neto é Jornalista e Editor de Espaço Espírita.
E-mail: juvan@jornalespacoespirita.com.br
Texto publicado originalmente na edição 21, de fevereiro de 2008

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