Por amor ao Espiritismo

por Dorival Strelow

Estudar a fundo a Doutrina Espírita requer daquele que se propõe a tal empreitada uma disciplina rigorosa e pontual, sobretudo pelo fato de que o esclarecimento de qualquer Espírito representa uma afronta a todos aqueles encarnados e desencarnados, que se colocam na condição contrária ao processo de espiritualização da Humanidade. Este fato é tão mais real quanto mais se percebe, à medida que se estuda a ciência espírita, que se cria uma atmosfera favorável ao processo de reforma íntima, o que faz com que um Espírito reformado seja um Espírito a menos a engrossar as fileiras dos que são usados pelos “inimigos da luz”.

Essa premissa assevera que o entendimento da ciência em questão não cria uma relação direta com a transformação imediata do Espírito que busca a compreensão das coisas do homem, da vida e de Deus, mas gera uma predisposição para que todo homem que busque o conhecimento possa transformá-lo em saber, que representa a aplicação deste conhecimento sobre a Doutrina em seu dia a dia.

Assim, o homem que busca o conhecimento espírita terá a desafiadora missão de dedicar-se habitualmente à investigação de todo e qualquer constructo relacionado aos ensinamentos trazidos pela plêiade de Espíritos Superiores, sob o comando do Espírito de Verdade. Dessa forma, não apenas entram no rol de leitura as obras da Codificação, como também as de caráter científico, sob a óptica da ciência propriamente dita. As literaturas científicas, sobretudo as localizadas no campo da Medicina, das Ciências Naturais e, principalmente da Física, são obras que dão ao estudioso do Espiritismo uma base cada vez mais sólida em relação às ligações entre ciência dos homens e ciência dos Espíritos.

No caso particular da Física, considerada ditadora de seus pares, apresentará no porvir a posição de fiel escudeira do Espiritismo. E, nesse sentido, deve ser ressaltada a grande importância do papel da Física Quântica para essa conquista. A grande relevância da Física se deve ao fato de que esta ciência tem os fenômenos como objeto de estudo, dentre os quais, diga-se de passagem, os do campo espirítico foram e ainda são testados pelos mais diversos campos da Ciência, sempre submetidos a análise física.

Partindo dessa proposição é que se pode dizer que estudar a ciência espírita é dedicar-se e comprometer-se à visitação demorada e detalhada de vários ramos do conhecimento humano. Com base nesse princípio, pode-se dizer que quem desejar o conhecimento espírita deverá iniciar, tão logo leia as obras da Codificação, sua romagem pelas primeiras produções que trataram da análise dos princípios elucidados pelo Espiritismo, tanto os que ratificaram o pensamento espírita, quanto aqueles cujas investigações apresentaram tão somente o intuito de ridicularizar a mensagem consoladora trazida pelos Espíritos.

Neste aspecto, pode-se iniciar a construção desse grande edifício, que representa ailuminação e o esclarecimento do homem por meio do Espiritismo, pelo conhecimento de estudos diversos; dentre eles, os do conde Agénor de Gasparin, que atribuiu como causa dos fenômenos observados mediunicamente a atuação da força psíquica; do Sr. Thury, que por sua vez atribuiu como causa desses mesmos fenômenos a existência de um fluido denominado psicodo. Já na análise do Sr. d’Assier, esses fenômenos apresentavam como causa a existência do Ensaio sobre a humanidade póstuma. Todos os trabalhos desenvolvidos mesmo antes da primeira edição de O livro dos espíritos tiveram o intuito principal de averiguar a atuação do médium no processo e, posteriormente, de comprovar a veracidade dos fenômenos que eram observados por estudiosos de várias áreas do conhecimento científico. Como já foi subscrito anteriormente, alguns trabalhos apresentavam a única e incoerente finalidade de ridicularizar o Espiritismo.No entanto, a avidez pela constatação da fraude era tamanha, que muitos pseudoestudiosos forjaram resultados para que os estudos realizados apresentassem, mesmo falsamente, a ideia de que o Espiritismo não apresentava nenhuma consistência.

No entanto, muitos também foram os estudiosos e cientistas que, desprendidos de qualquer preconceito, analisaram por meio de métodos científicos rigorosos a ação dos médiuns e os fenômenos que eles mediaram, chegando a conclusões plausíveis acerca do que afirmava o Espiritismo. Os resultados verdadeiros foram tão consistentes que alguns notáveis investigadores, ao final de seus trabalhos, acabaram por se tornar adeptos da nova e consoladora Doutrina.

Há trabalhos sérios, como os de Zöllner, Aksakof, Goswami, Banerjee, Hermínio Miranda, Hernani Andrade, Jorge Andrea, Stevenson e, mais atualmente, Robert Lanza. São eles alguns dos mais importantes homens de ciência que contribuíram deveras para a elucidação e dilatação dos conhecimentos trazidos pelo Espírito de Verdade.

Zöllner, como físico, deu grande contribuição para o entendimento dos fenômenos de passagem da matéria pela matéria e das interconexões entre as dimensões terceira e quarta. Aksakof, como professor, acompanhou diversos experimentos no campo do psiquismo e reuniu acervo relevante em seu livro Animismo e espiritismo, dando grande impulso para que questões como as da mediunidade, na Rússia, fossem encaradas de forma científica. Goswami, doutor em Física Quântica,apresentou, ainda no século XX, ideias relacionando física quântica a espiritualidade, criando um pensamento denominado misticismo quântico. Ele apresentou grandes contribuições para o alavancamento de ideias acerca da sobrevivência da consciência, embasadas na Física Quântica. Banerjee, outro notável indiano que ao longo de sua carreira dedicou décadas de sua vida ao estudo da reencarnação. Hermínio, Hernani e Andrea, três notáveis brasileiros, que de forma séria e científica estudaram os princípios espíritas e a lei da reencarnação. Stevenson, assim como Banerjee, passou décadas de sua vida estudando mais de dois mil casos que, segundo ele, sugerem reencarnação. E, por último, Lanza, que atualmente é responsável por uma das mais ousadas ideias da contemporaneidade, a Teoria do Biocentrismo, que, partindo da Física Quântica, se lança em direção à reencarnação, ao defender a sobrevivência da consciência. Por último, pode-se citar J. Herculano Pires, que na condição de profundo estudioso da Doutrina Espírita, publicou dezenas de elucidativas obras espíritas.

Portanto, há muitos estudiosos que se lançaram e ainda se lançam no sentido da afirmação e reafirmação do que elucida o Espiritismo, embora a ciência espírita não careça de defesa, pois, como ciência construída e elaborada em leis sólidas – as Leis Divinas –, deve receber as contribuições cabidas à Ciência, para que todos os fatos e fenômenos espíritas sejam mais bem entendidos e creditados. Essa marcha da ciência dos homens, em direção à ciência espírita, já teve seu início de forma natural, esclarecedora e científica.

São estes apenas alguns dos mais notáveis profissionais que, espíritas ou não, empreenderam esforços grandiosos em favor desta consoladora e esclarecedora Doutrina, o Espiritismo. Estes homens, considerados ousados, pois viveram e vivem num tempo em que a Ciência e a Religião eram e ainda são utilizadas por muitos com vistas a negar a realidade espírita, lançaram-se na busca de elucidações daquilo que precisava e precisa ser dilatado para melhor ser entendido e aceito.

Segundo o Espírito Herculano Pires, na obra Revisão ou reafirmação do espiritismo?, todos nós devemos, por amor ao Espiritismo, reconhecer que há um movimento contrário ao processo de espiritualização da Humanidade, o qual, sabedor das nossas fragilidades e inferioridades, nos ataca naquilo que de mais terreno possuímos: a intemperança, a sensualidade, a indisciplina, a preguiça mental. Para ele, os ataques dos inimigos da luz acontecem de dentro para fora do Movimento Espírita, pela invigilância dos próprios espíritas, o que nos leva a asseverar que muitos daqueles que se dizem espíritas, dos que estão envolvidos com a proclamação da mensagem do Cristianismo Redivivo, são, na verdade, soldados dos exércitos da falange sombria que combate a luz que o Espiritismo representa. Mais grave ainda é que muitos dirigentes e trabalhadores de casas espíritas nem sequer se dão conta de que estão sendo controlados e usados por inteligências trevosas que combatem o Espiritismo, tamanha é a invigilância de que se fazem portadores.

Por amor ao Espiritismo e vivendo sob a égide dos luzeiros espirituais, façamos o que nos cabe: amar incondicionalmente os semelhantes, estudar com racionalidade o Espiritismo, não fugir das oportunidades de fazer o bem e a caridade, perdoar os inimigos e por eles orar, tal como nos ensinou e exemplificou Jesus. Por amor ao Espiritismo saiamos em defesa desta majestosa Doutrina, retribuindo tudo o que por meio dela temos conquistado e recebido.

Por amor ao Espiritismo podemos vencer a preguiça mental, romper as barreiras do preconceito, combater a divisão, o exclusivismo  e o sectarismo. Por amor ao Espiritismo podemos aceitar o  irmão da forma que ele é, sem pretender mudá-lo nem julgá-lo, e sem tratá-lo como ditamas convenções do verniz social. Por amor ao Espiritismo podemos nos libertar das amarras e grilhões do orgulho e do egoísmo, da intemperança e da sensualidade exacerbada. Por amor ao Espiritismo podemos nos desvencilhar dos resquícios do horizonte tribal, dos formalismos religiosos e igrejeiros, das lutas inglórias, dos exclusivismos e da luta de poder no interior da Casa Espírita. Por amor ao Espiritismo podemos sempre enxergar uma oportunidade para a prática do bem, sem
acepção de pessoas, como bem demonstrou Jesus na Parábola do Bom Samaritano.

Finalmente, por amor ao Espiritismo não queiramos nem aceitemos a “revisão” da obra que Kardec tão bem soube organizar e orquestrar, a pretexto de “atualizá-la” ou “adequá-la” aos novos tempos, conservando-a tal como no-la ministraram os Imortais.

REFERÊNCIAS:
AKSAKOF, Alexandre. Animismo e espiritismo. 6. ed. 2. reimp. Brasília: FEB, 2011. Resumo histórico das teorias antiespíriticas.

CAJAZEIRAS, Francisco. Revisão ou reafirmação do espiritismo?. Pelo Espírito J. Herculano Pires. 1. ed.Fortaleza: Edições ICE, 2009.

GOSWAMI, Amit. A física da alma: a explicação científica para a reencarnação, a imortalidade e experiências de quase-morte. São Paulo: Editora Aleph, 2005.

MIRANDA, Hermínio C. Reencarnação e imortalidade. 6. ed. Brasília: FEB, 2010.

PIRES, J. Herculano. O espírito e o tempo: introdução antropológica ao espiritismo. 12. ed. São Paulo: Editora Paideia, 2016.

STEVENSON, Ian. Reencarnação. Vinte casos. São Paulo. 2. ed. revisada e ampliada, 2011.

ZÖLLNER, Johann Karl F. Provas científicas da sobrevivência: física transcendental. Trad. Thomaz Williams. 6. ed. Sobradinho: EDICEL, 1996.

Cícero Alberto Nunes
ssisso.ej@hotmail.com

Fonte: Reformador

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