Beethoven – A comunhão do gênio com a espiritualidade

por Dorival Strelow

Izabel Vitusso

Considerado o maior de todos os compositores musicais, Ludwig Van Beethoven nasceu na Alemanha, em 1770. Seu talento e sensibilidade impressionavam desde cedo, como pianista, professor e como exímio compositor. Aos 25 anos, ele já vendia sem dificuldades suas composições para os editores musicais da época.

Mas, ao se aproximar dos 30 anos, os primeiros sintomas da surdez começaram a lhe aparecer, tendo início uma vida intensa de privações.
Alma sensível e de extrema bondade, Beethoven tinha a perfeita intuição de que viera ao mundo não para uma vida tranquila, mas para realizar grande obra. “Quero provar que todos os que procedem bem e nobremente podem, por isso mesmo, suportar a desgraça”, dizia.

Apaixonado pelas ideias de Platão e Plutarco, costumava se refugiar nos bosques para sentir as vibrações da natureza. Como médium, constantemente recebia inspirações, que anotava em um caderno que sempre carregava. Em momentos como estes, ao piano, seu rosto se transfigurava, suas veias saltavam e seu olhar se fixava ao infinito.

Ao explicar de onde lhe provinha a concepção de suas obras-primas, dizia que se sentia obrigado a deixar transbordar as ondas de harmonia que lhe vinham. Procurava acompanhá-las e delas se apoderar, mas elas lhe escapavam, para retornarem depois, quando ele apreendia com ardor a inspiração. Arrebatado, multiplicando todas as modulações, por fim, se apropriava do primeiro pensamento musical.

Quando os críticos observavam que algumas de suas passagens musicais ultrapassavam a capacidade dos instrumentos para os quais tinham sido escritas, ele respondia: “Acreditarão, acaso, possa eu pensar num miserável violino quando converso com o espírito? Seria o mesmo que esperar que um vulcão vertesse as suas lavas em moldes artificiais preparados por mãos humanas.”

Se debatendo diante da surdez, que o levava cada vez mais ao isolamento social e a ser extremamente criticado, Beethoven desabafava: “Quero afrontar o destino; mas há momentos em que sou a mais miserável das criaturas de Deus. Resignação! Que triste refúgio. E é, entretanto, o único que me resta”.

Essa tristeza se exprime em várias de suas obras. Na Quinta sinfonia em dó menor, como escreveu o compositor francês Berlioz, Beethoven desenvolve seu próprio pensamento, e suas mágoas, sua cólera, seus sonhos tão cheios de melancolia, suas explosões de entusiasmo. “É a história da luta do homem contra o destino, e da vitória do homem guiado pelo céu.”

Beethoven mesmo reconhece ter nascido com um temperamento ardente e altivo, dado até mesmo às distrações sociais, mas cedo se viu forçado a viver solitário. “Não me era possível dizer aos homens: Falai mais alto, gritai, porque sou surdo! Ah! Como poderia revelar a deficiência de um sentido que deveria em mim ser mais perfeito que nos outros, um sentido que possuí outrora tão apurado, como poucos na minha profissão o tiveram!”. “Perdoem-me, dizia, se me veem viver afastado, quando eu quereria misturar-me convosco. Dupla é a minha infelicidade, pois deve ser desconhecida.”

Deixa claro que foi a arte que o ajudou a se manter vivo. “Parecia-me impossível deixar este mundo sem ter realizado tudo o de que me sentia incumbido.”

Às vezes arriscava o convívio social, mas se sentia extremamente humilhado, quando alguém ao seu lado descrevia o som de uma flauta ao longe ou o canto do pastor e ele nada percebia.

Durante os anos de surdez total foi quando Beethoven criou suas melhores composições, consideradas verdadeiras obras-primas. E dizia: “Tenho necessidade de viver só comigo mesmo. Sinto que Deus e os anjos estão mais próximos de mim, na minha arte, do que os outros. Entro em comunhão com eles, e sem temor. A música é o único acesso espiritual nas esferas superiores da inteligência.”

O compositor pede aos irmãos que, assim que ele morresse, que fosse até o professor Schmidt para que ele descrevesse a sua moléstia e a ela juntasse a carta que ele deixava, a fim de que o mundo se reconciliasse com ele.

Agradece ao irmão Garl, por seu devotamento e lhe deseja uma vida feliz. Pede que aconselhe aos filhos a Virtude. “Somente ela, não o dinheiro, pode dar felicidade. Falo por experiência. Foi ela que me susteve na miséria.”

Bibliografia:
As 100 maiores personalidades da história, Michael H. Hart. Difel.
Grandes vultos da humanidade e o espiritismo, Silvio Brito Soares. FEB.

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Publicado no jornal Correio Fraterno – edição 485 janeiro/fevereiro 2019

Fonte: Correio Fraterno

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