Educação pública gratuita é algo que os espíritas dão atenção?
Olá, caras leitoras e leitores! A ideia do Espiritismo é ser ao mesmo tempo uma ciência, demonstrando empiricamente os fenômenos mediúnicos e a existência dos espíritos atuando no mundo; uma filosofia, propondo uma visão cósmica evolucionista e reencarnacionista; e uma religião sem rituais, dogmas e sacerdócio – proposta que faz uma releitura do Cristianismo com uma moral e ligação do ser humano diretamente com a fonte inteligente do Universo, a qual chamam Deus. Bom, é baseada no aspecto filosófico e religioso que vamos discorrer nossa conversa.
Escola pública gratuita e de qualidade. O que isso tem a ver com o Espiritismo? Herculano Pires lutou na década de 60 pela escola laica, gratuita e obrigatória. Diante da necessidade de se recuperar o aspecto espiritual na Educação, o grande filósofo propôs que (…) “reconhecendo que a Religião corresponde a uma exigência natural da condição humana, e a uma exigência da consciência humana, e que pertence de maneira irrevogável ao campo do Conhecimento, devemos reconduzi-la à escola, mas desprovida da roupagem imprópria do sectarismo. Temos de introduzir nos currículos escolares, em todos os graus de ensino, a disciplina Religião, ao lado da Ciência e da Filosofia.
O grande professor Herculano ainda estabelece: “Sua necessidade (da Religião) é inegável, pois sem atender aos reclamos do transcendente no homem não atingiremos os objetivos da paidéia grega:a educação completa do ser para o desenvolvimento integral e harmonioso de todas as suas possibilidades”. (PIRES, 1985:40).
Leitoras e leitores, vocês sabiam que Filosofia, Sociologia, Educação Física e Artes são disciplinas não mais obrigatórias no currículo escolar? Que segundo dados da Secretaria de Educação de Joinville, em junho de 2011, existiam 1142 escolas públicas, e em junho de 2017 elas decaíram para 1073? Ou seja, foram fechadas 69 escolas apenas em Joinville, maior cidade catarinense. E não foram abertas novas. Em virtude da possibilidade desta aterradora realidade que centenas de estudantes, por meio de ocupações, transformaram as escolas em espaço político de defesa da educação pública e de qualidade – isso nos anos de 2015 e 2016.
E nós espíritas, como nos posicionamos? O Espiritismo incentiva o estudo. Mas precisamos oportunizá-lo para todas as pessoas, de todas as camadas sociais. Podemos perceber nas casas espíritas que as pessoas que fazem parte dos estudos, via de regra, são brancos e de classes mais privilegiadas; penso que deveríamos nos preocupar em abrir esta oportunidade a todas. Mas como, se “os excluídos” têm esta discriminação na sua base escolar?
O médium, humanista e educador espírita Divaldo Pereira Franco nos coloca seu pensamento, no tema “Desigualdades Sociais”: “…o Espírito egoísta elege para si direitos que não permite ao seu próximo. Membros de uma estrutura social distorcida, milenar, alguns se permitem privilégios, com esquecimento total de todos aqueles que necessitam dos mesmos recursos.”
Já o Médico dos Pobres, Doutor Bezerra de Menezes, disse ao querido Chico Xavier: “Quando a caridade é muito discutida, o socorro chega tarde”. Em 1988, com o processo de redemocratização do País, foi conquistada e depois aprovada na Constituição Brasileira a lei 9394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece o direito e garantia a todos/as os/as cidadãos/ãs de ter oportunidade de acessar as instituições escolares e nelas encontrarem condições próprias para concluir, na idade certa, seus ciclos escolares com níveis satisfatórios de aprendizagem.
Como poderão em um futuro próximo jovens ou adultos estudar os livros espíritas, se oriundos de classes sem privilégios, egressos de uma escola de má qualidade e tão distante, em que o menor deve trafegar uma hora e meia ou mais para ir e voltar, chegando nos bancos escolares já cansado? Isso sem falar da má nutrição.
Como podem não terem em suas disciplinas obrigatórias a filosofia, artes que desenvolve a possibilidade de pensar sobre as questões fundamentais sobre a natureza humana, do conhecimento; da estética; da verdade; do valores morais, da linguagem e do Universo em sua totalidade?
Como poderão chegar ao pensar espírita, se não tiveram em sua base educacional um pensar filosófico e muito menos uma escola digna? Leitora e leitor, creio que está passando a hora de nós espíritas conversarmos sobre dignidade, igualdade, fraternidade e amor ao próximo, que são a base de todo Cristianismo. A palavra ensinar aparece 200 vezes na Bíblia. Nosso futuro está nas mãos de todos nossos jovens. É tempo de acordar.
Grande e fraterno abraço.
Lili Zacharia.