por Eric Pacheco
“Adquire proeminência a figura de Zélio de Morais, cuja notoriedade se produz em torno de certo reconhecimento de seu papal de ‘fundador’ ou de ‘pioneiro’ da umbanda no Rio de Janeiro e arredores. […] As fontes das informações que fundamentam esses relatos umbandistas não são precisas.”
“O vigésimo e último número da Revista Espiritual de Umbanda chegou às bancas em novembro de 2008. Nessa época, o centenário da Umbanda era comemorado pelas diversas correntes ou escolas umbandistas que defendem o mito fundador desta religião protagonizado pela entidade Caboclo das Sete Encruzilhadas e pelo médium Zélio Fernandino de Moraes.”
“Conforme me referi em um trabalho escrito durante os anos 199024, a riqueza simbólica advinda do mito de origem é o que importa e é aí que a história reconhece autenticidade. Diana Brown já mostrava a especificidade da transposição da narrativa mitológica de origem para o âmbito dos estudos empíricos. Se não se pode afirmar que Zélio de Moraes tenha “fundado” a umbanda, a riqueza simbólica deste mito é altamente indiciária, inclusive, de uma leitura da história assumida por alguns intelectuais da umbanda.”
“Tal marco-mito já foi narrado ou mencionado inúmeras vezes nos mais diversos contextos, como livros de umbandistas e estudiosos da religião (duas categorias que obviamente podem se sobrepor), revistas umbandistas, sites diversos e apostilas formuladas por terreiros e federações. É difícil encontrar um texto, acadêmico ou não, sobre a umbanda (a não ser quando trata de questões muito específicas) que não faça uma referência direta ou indireta a ele, tratando-o como mito propriamente dito ou como marco histórico.”
“A anunciação da Umbanda pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, por meio da mediunidade de Zélio Fernandino de Moraes, é relatada na Revista Espiritual de Umbanda nº 01, em matéria intitulada ‘A primeira manifestação oficial da Umbanda’. No texto estão relatados os principais episódios deste mito fundador, cujas versões – sempre com algumas variações – circulam no meio umbandista e transmitem certa visão das origens da Umbanda. Ao explicar o que é um mito fundador, Marilena Chauí esclarece que a palavra ‘mito’ deve ser compreendida no sentido antropológico, como uma narrativa que aparece como solução imaginária para tensões, conflitos e contradições que não encontram caminhos para serem resolvidos no nível da realidade. Já o termo ‘fundador’ refere-se a um momento passado imaginário, tido como instante originário que se mantém vivo e presente no curso do tempo.”