O envelope secreto para um PAI

por Dorival Strelow

Da Redação

O escritor Herminio C. Miranda (1920-2013) dedicou às mães um de seus livros de maior sucesso, Nossos filhos são espíritos (Ed. Lachâtre). Ele inicia e termina a obra, porém, falando justamente sobre a desafiadora tarefa de ser pai, quando ainda não compreendia com precisão o dever que a paternidade lhe impunha.

“O dr. Pimentel cortou o cordão umbilical, enrolou a criança em uma toalha – era uma menina. Eu tinha 23 anos e pela primeira vez na vida agitavam-se em mim as poderosas emoções da paternidade”, conta.

Nascia Ana-Maria e, segundo Herminio, vários pensamentos transitavam por sua mente. “Acho mesmo que tinha tantas perguntas quanto ela, talvez mais, não sei. Minha dúvida era: de onde vinha aquele ser? Aprendera na infância que Deus criava uma alma novinha em folha para cada criança que nascia, mas eu tinha já minhas dificuldades com essas e outras informações. Não poderíamos ter criado aquela pessoinha a partir do nada”.

Herminio não queria apenas respostas. Era um turbilhão de emoções. “Tudo quanto eu podia ver é que, de alguma forma, havia um pouco de mim naquele tépido bolinho de gente, à espera de que a tomássemos nos braços e, depois, pelas mãos, lhe mostrássemos como era nosso mundo. E já sentia, nas profundezas da memória do futuro, aquele dia em que ela não mais precisasse das nossas mãos e partisse para viver a sua vida. Não tinha palavras, eu confiava em Deus e na menina dos atentos olhinhos. Como também confiaria em duas outras pessoas que, sem eu saber, estavam à nossa espera, do outro lado do véu…”

Depois de abordar vários temas importantes relacionados às programações reencarnatórias, Herminio encerra Nossos filhos são espíritos com o capítulo “Diploma de pai”, confessando ter sido também Ana-Maria quem acabou por lhe trazer a resposta que tanto buscava. “Ela assinou o meu Diploma de Pai, respondendo a uma das perguntas que li nos seus olhos, quando, pela primeira vez, nos encontramos do lado de cá da vida: ‘Será que esse sujeito vai ser um bom pai para mim?'”herminioHerminio divide com o leitor a emoção, reproduzindo no livro o texto de Ana-Maria sobre um suposto diálogo que teria tido com Deus antes de reencarnar, quando teria recebido as recomendações para desempenhar com êxito sua tarefa de pai. Acompanhe.

Diploma de pai

– Você vai primeiro ser filho. Depois, vai ser afilhado, depois, irmão, depois aluno, e… – Aluno, Senhor?

– É, aluno e tio, primo, funcionário, e assim por diante, até ser namorado, noivo e esposo, pra depois ser… pai. Esta é a mais importante de todas as categorias citadas. (…) Você pediu três filhos; duas meninas e um menino.

– Sei…

– Naturalmente, que isto só vai começar a acontecer daqui a 23 anos. De tudo o que você pediu pra ser, ser pai é o mais difícil lá na Terra.

– Entendo, Senhor…

– Não, meu filho, você não entende. Mas quando chegar a hora você saberá o que fazer.

– Estou muito receoso, Senhor. Ser pai, como o Senhor… Não vou conseguir.

– Quem sabe? Daqui a muitos anos, vamos nos encontrar de novo e assim retomaremos esta conversa…

– Sim, Senhor… Mas, vejo dois envelopes em suas mãos. São para mim?

– Ah, já ia chegar lá. Neste aqui contém minhas instruções para a sua vida de pai. Aqui estão as soluções para todas as situações que vai enfrentar com Ana-Maria, Marta e Gilberto. Aqui está o que lhes dizer, fazer, aconselhar, ensinar, repreender, tudo. Vou instalar estas instruções no computador do seu espírito!

– Computa… o quê, Senhor?

– Computador? Um dia você vai saber. Quando chegar a hora de resolver o problema com um dos rebentos, é só você chamar a me¬mória e já virão todas as minhas instruções.

– Obrigado, Senhor, mas deve haver algum engano, aqui só há uma folha de papel em branco!

– Não é engano não, meu filho. É que só os pais podem ler o que está aí.

– Ah, entendi, Senhor. E o outro envelope?

– Este contém uma única palavra. E você só vai poder abrir este envelope no dia em que sentir necessidade de saber uma coisa muito importante: o que eles três pensam a teu respeito como pai.

– Ah…

– Se pelo menos um deles três te chamar da palavra escrita aqui, nesta folha, você terá se aproximado ainda mais de mim, como… pai.

– Sim, Senhor.

– Vai, Herminio. Minha bênção e boa sorte.

– Obrigado, Senhor. Vou sentir sua falta. Até a volta…

Herminio conta que o segundo ato dessa história se passaria na Terra, em 1991. Ele e a esposa comemoravam 49 anos de união, quando recebeu de Ana-Maria, o seguinte recado:

– Pai, abra aquele envelope hoje. Veja se a palavra escrita pelo Senhor não foi… AMIGO.

– Era.

Bibliografia

MIRANDA, Herminio C., Nossos filhos são espíritos (editora Lachâtre). Leia aqui o capítulo I: Olhos de ver e olhos de olhar.

capa

Publicado no jornal Correio Fraterno – Edição 488 – julho/agosto 2019.

Fonte: Correio Fraterno

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